quarta-feira, 18 de setembro de 2013

COLUNA ENSAIO GERAL: GERALDO GUILHERMINO

Crônicas de Bom ConselhoPor: Alexandre Tenório



       

Todos os bom-conselhenses das décadas de 70 e 80 ouviram falar de Geraldina. Geraldo como era seu nome de batismo, nasceu no distrito de Santa Terezinha (hoje a cidade de Terezinha). Desde cedo que ele tinha tendência para brincar de boneca, por mais que o pessoal insistisse com boi de barro, bola, carro, ele só tinha olhos para as bonecas. A família fez de tudo para mudar o hábito dele, mas não teve jeito. Depois de um certo tempo, o jeito foi aceitar ele como ele era. Geraldo era muito estudioso e inteligente, pegava as coisas com facilidade. A família se mudou para Bom Conselho para que ele terminasse os estudos. Geraldo começou a costurar e em pouco tempo passou a ser o melhor costureiro de roupa masculina de nossa cidade. Naquela época a moda era conjunto de calça e camisa do mesmo tecido. A camisa tinha 4 bolso na frente, a calça era boca de sino, e quem estivesse vestido desta forma estava elegantemente vestido, e para completar o figurino, usava um sapato cavalo de aço (este sapato era com o salto de 5cm bem grosso) e uma bolsa capanga pendurada no ombro.
Geraldo passou a ter seus trabalhos requisitado por pessoas de outras cidades, devido a perfeição de seus conjuntos.
Geraldo era de cor branca, cabelos começando a ralear e um pouco compridos, vestia calça bem justa, gostava de usar camisa de renda de manga comprida, e sempre usava um lenço ao redor do pescoço.
Geraldo foi a primeira pessoa assumidamente homossexual de nossa cidade, no início causou espanto, depois as pessoas se acostumaram com ele e realmente as pessoas passaram a não levar isto em consideração. Geraldo tinha uma personalidade forte, e embora fosse homossexual ele impunha respeito, e não viesse com brincadeira com ele que a pessoa ouvia poucas e boas.
Uma mesa de bar com Geraldo era uma beleza, pois o seu jeito afeminado e sua maneira de falar, era motivo de graça e alegria para todos. Tinha uma língua ferina, porém era respeitado por todos e Bom Conselho inteiro gostava dele.
Na casa dos meus pais, todo aniversário que existia, ele era o primeiro a ser convidado, mamãe gostava muito dele, e quando demorava a ter festa lá em casa, ao se encontrar com mamãe perguntava – Miriam você já olhou direitinho as certidões de nascimento dos meninos, pois já faz muito tempo que não se comemora um aniversário.
Geraldo devido o seu trabalho não tinha concluído o segundo grau, então certo dia resolve fazer o curso MADUREZA, que era ministrado no Colégio Souto Filho. O MADUREZA era um curso para pessoas mais velhas que não tiveram tempo de terminar o segundo grau, ele era administrado a noite, e era muito frequentado, varias pessoas se formaram depois de terminar o MADUREZA.
Geraldo termina o MADUREZA e resolve fazer o vestibular para professor na faculdade de Arcoverde, para supressa de todos, Geraldo é aprovado no vestibular. Depois de concluir a faculdade ele vai ser professor nos colégios CERU e São Geraldo.
Segundo sua irmã dona Eli (a quem eu tenho uma grande consideração) Geraldo tinha um sonho de ser PROMOTOR PÚBLICO e para isto era necessário ter o curso de DIREITO, então ele resolve fazer o vestibular na faculdade de Caruaru e surpreendentemente passa em Direito.
Geraldo tinha uma enorme facilidade de expressão, e isto é um requisito fundamental para o exercício da advocacia.
Geraldo foi auxiliar Dr. José Maria Pereira de Melo, que naquela época era o melhor advogado de nossa cidade. Eles formavam uma dupla diferente, pois todos nós sabemos da virilidade de Dr. José Maria, como sabíamos da feminilidade de Geraldo.
Geraldo tinha um corcel cor Laranja, e não era um grande motorista, tinha a mania de colocar a cabeça do lado de fora do carro para ver melhor quem vinha de sentido contrário.
Num dia de domingo surge a notícia, que Geraldo tinha sido encontrado morto a margem da Pe-218 dentro do seu carro, ele tinha um afundamento no crânio. Logo de imediato surgiu a conversa que ele tinha sido assassinado, versão que logo foi desfeita pela polícia, o que tinha realmente acontecido foi que ele indo em direção a Garanhuns a uma certa hora da noite, coloca a sua cabeça para fora do carro para melhor enxergar, nisto vem uma carreta em alta velocidade e um daqueles ganchos que fica na carroceria pegou na sua cabeça, fazendo com que o seu carro batesse numa barreira e ali ficasse parado até a manhã do domingo.
Bom Conselho inteiro lamentou a morte precoce aos 42 anos de Geraldo, e com o desaparecimento de Geraldo nossa cidade perdeu o seu melhor alfaiate e um pouco da sua alegria
A sua genitora ainda se encontra viva, morando na Rua Barão do Rio Branco, ela nunca se recuperou da perda de Geraldo, pois ele era um excelente filho.
Vai aqui a minha homenagem a este que durante sua existência aqui na nossa cidade só levou alegria para as pessoas, e sua ausência fez muita falta a todos.


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